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Preço da arroba tem vindo a bater máximos históricos. Pode ser a oportunidade certa para certificar um produto endógeno do Algarve com Indicação Geográfica Protegida (IGP), defende Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas.

Não se sabe ao certo se é a indústria farmacêutica que, por causa da pandemia de COVID-19 está a absorver os derivados de alfarroba, um espessante natural, ou se é a indústria dos suplementos alimentares.

«O que sei é que o aumento dos preços nos últimos dois anos foi substancial, sobretudo para os mercados de exportação. E isso tem-se estado a refletir no preço», diz Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve.

Na sexta-feira, dia 25, «a cotação da alfarroba inteira (15 quilos), aquilo que é pago ao produtor, está perto dos 24 euros. Mesmo neste ano já foi superior e andou perto dos 28 euros», estima.

«A pandemia fez com que as pessoas se começassem a preocupar mais com a saúde, com o reforço do sistema imunitário, com o consumir ao máximo produtos produzidos à base de componentes naturais, utilizando o mínimo de produtos artificiais porque associam isso a uma saúde mais robustecida. A alfarroba encaixa-se perfeitamente nesta preocupação», diz.

«Porque a alfarroba, não diria que é um substituto do cacau e do chocolate, mas é um produto que na prática, por via da aplicação na indústria alimentar, poderá ser quase uma alternativa para quem tem algumas patologias, ou até mesmo quando se segue alguma dieta. A alfarroba é muito menos calórica que o cacau, não tem os problemas de adição que o cacau pode dar e imita perfeitamente, no aspeto, o chocolate».

A verdade é que este ano, «são preços inéditos. Estamos mesmo numa boa onda para a alfarroba», diz Pedro Valadas Monteiro.

Em termos de implementação, esta cultura até tem crescido. «Em 2009, haviam 12.220 hectares de alfarrobeiras no Algarve. Ao dia de hoje, temos 13.225 hectares. Cresceu, proporcionalmente, mais que o pomar de laranjeiras», compara.

Claro que o rendimento tem ciclos, «porque está muito dependente da procura dos mercados. Por outro lado, não nos podemos esquecer que há outros players importantes a produzirem alfarroba no mundo, como a Espanha e Marrocos. Por isso temos de apostar na construção de uma imagem de qualidade para a alfarroba do Algarve. Para quê? Para que mesmo em alturas em que a oferta internacional exceda a procura, os compradores não se importem de pagar um pouco mais pela alfarroba algarvia».

Pedro Valadas Monteiro tem até um cliente preferencial em mente.

«No Médio Oriente são muito recetivos a produtos feitos à base de alfarroba. É um mercado que pode ser explorado, além dos tradicionais do norte e centro da Europa e Estados Unidos da América. O que é que acontece? Os relatos que me têm sido feitos pelos empresários, que antes da pandemia frequentavam feiras, é que a alfarroba produzida no Algarve é a predileta e é a que suscita mais interesse. Isso fez-nos tentar incentivar a produção e os transformadores a avançarem para a criação de uma Indicação Geográfica Protegida (IGP) de alfarroba do Algarve, à semelhança dos citrinos algarvios», que têm contribuído para o sucesso na grande distribuição nacional e europeia.

«Já fizemos uma reunião inicial com os produtores, as suas associações como a AGRUPA e a AIDA e também com o envolvimento de alguns dos utilizadores finais, como a Carob World».

O diretor admite que o processo é «complicado. É preciso fazer análises ao produto e estabelecer uma causa-efeito entre o local onde está a ser feito e as características distintas que eventualmente ele tem. É preciso prová-lo», e está disposto a contribuir para que em breve a alfarroba do Algarve tenha certificação IGP.

Carob World é «exemplo» daquilo que o Algarve precisa

Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas, em entrevista ao barlavento, considera que a nova unidade da Carob World é «precisamente aquilo que precisamos no Algarve».

E justifica: «É um investimento importante. Aliás, um dos segredos que está por detrás da cultura da alfarroba no Algarve sempre foi a vitalidade da transformação. Na prática, a transformação é que dita o preço ao produtor. Quanto mais aplicações industriais houverem para o transformado da alfarroba, melhor a cotação para o produtor. Estas fábricas acrescentam valor através da aplicação do transformado, neste caso para uma utilização alimentar, através das tabletes, da farinha e dos cremes, inovando. E mais, é uma produção direcionada para a exportação que incorpora valor regional e que utiliza um recurso endógeno produzido também no Algarve que é a alfarroba».

Programa de Desenvolvimento Rural 2030 poderá apoiar sequeiro tradicional algarvio

No âmbito da preparação do futuro Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2030, está em discussão pública o plano estratégico da Política Agrícola Comum (PAC), que dará origem às várias medidas de investimento a financiar no próximo quadro de fundos europeus.

«Fizemos uma proposta ao Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) para criarmos uma medida específica para apoio à preservação, ao melhoramento e também a novos investimentos nas espécies tradicionais de pomar no Algarve: alfarrobeira, amendoeira e figueira», revela Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas, ao barlavento.

«Entendemos que a preservação destas espécies é extremamente importante para o Algarve, para a preservação da identidade da paisagem tradicional que associamos à Dieta Mediterrânica. Sabemos que algumas destas produções deixaram de ser rentáveis. Mas há agricultores que as querem preservar, manter ou até aumentar as áreas, por exemplo, através do sequeiro ajudado com regadio. Na prática é um serviço público à comunidade Queremos criar uma medida ao nível do apoio ao rendimento, com uma discriminação positiva para este tipo de investimento, precisamente para remunerar esses serviços ecossistémicos. Essa medida está proposta e temos esperanças que venha a ser incorporada » no próximo PDR 2030.

Região deve apostar em toda a fileira da alfarroba

A vagem da alfarroba tem duas componentes: polpa e semente. Segundo Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas, «a polpa representa 90 por cento do peso da vagem. A semente representa cerca de 10 por cento. Mas em termos do valor que o mercado remunera, 80 por cento é para a semente e só 20 por cento é que é a valorização da polpa. Qual é que é o próximo desafio da indústria, das universidades, dos centros de investigação, utilizadores do transformado? Conseguir arranjar cada vez mais e melhores aplicações para a polpa da alfarroba», de modo a criar valor para esta componente.

No caso da nova fábrica da Carob World, «trabalham com a alfarroba produzida no Algarve, transformada numa unidade local, no Areal Gordo», o que estimula um circuito de economia circular. O diretor acredita que há espaço para novas empresas.

«Sem dúvida. Imagine que apenas vendíamos a vagem para unidades industriais fora da região e fora do país. O valor que ficaria retido no Algarve é uma ínfima parte daquilo que pode ser obtido e pode ficar se tivermos cá toda a fileira. Quanto mais unidades tivermos de trituração, de segunda transformação e de fábricas ou unidades industriais que possam usar esse transformado para obtenção de produtos finais a colocar no mercado, como o que a Carob World quer fazer, conseguimos completar a cadeia de valores no Algarve, produzindo um produto final que pode ser colocado ou no mercado interno ou na exportação».

 

FONTE: Barlavento, Semanário Regional do Algarve

https://barlavento.sapo.pt/destaque/alfarroba-do-algarve-vai-ter-certificacao-igp?fbclid=IwAR04gwbPdfcheM6zesKUoBozESsS_4f9K4qJH2mlOhsXkTJ4nsP_neUpekU