O cultivo continuado dos citrinos em todo o território nacional permitiu a conservação de variedades muito antigas ou suas mutações, as quais constituem um importante património genético que interessa conservar.
Para assegurar a preservação dessas variedades tradicionais, as antigas entidades Direção Regional de Agricultura do Algarve (DRAALG), Centro de Citricultura, Estação Nacional de Fruticultura Vieira Natividade (ENFVN), Direção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste e a Universidade do Algarve, na década da noventa, realizaram trabalhos de prospeção e recolha de material vegetal nas principais zonas de produção citrícola do país, nomeadamente Algarve, Alentejo, Ribatejo e Oeste, Beira Litoral, Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro e Açores. Posteriormente, o material vegetal existente no antigo Departamento de Citricultura da ENFVN foi transferido para o Centro de Experimentação Hortofrutícola do Patacão (CEHFP), atual Polo de Inovação de Faro. Esses materiais juntamente com outros que tinham sido reunidos no Centro de Experimentação Agrária de Tavira da DRAALG, atual Polo de Inovação de Tavira, foram multiplicados em estufa e instalados em campo, constituindo a coleção nacional de referência dos citrinos, que congrega material de todo o país e variedades estrangeiras.
Atualmente a coleção é composta por 245 variedades/entradas, de espécies pertencentes aos géneros Citrus (22 espécies), Fortunella, Poncirus e Severinia, onde se incluem 96 de variedades/entradas de laranjeiras, sendo 70 portuguesas e 26 estrangeiras, 48 de tangerineiras e seus híbridos, sendo 14 portuguesas e 25 estrangeiras e 62 limoeiros, sendo 49 portuguesas e 13 estrangeiras, além de limeiras, toranjeiras pomeleiros, cunquatos e outros.
A coleção foi instalada em campo a partir de 1997, no CEHFP, num solo de textura arenosa, com compasso de 5m x 3m, com duas plantas por entrada, número posteriormente aumentado para quatro plantas por variedade.
A coleção tem uma réplica, instalada num abrigo, com uma planta de cada variedade para prevenção de perdas em campo.
Além de cumprir objetivos de preservação de material genético a coleção constitui também um acervo importante para a investigação e tem vindo a ser estudada no âmbito de vários projetos. No projeto FRUITMED foram caraterizadas algumas das variedades tradicionais de laranjeira, com base nos descritores da “Community Plant Variety Office” (CPVO), agência da União Europeia, que gere o sistema europeu de direitos de variedades vegetais internacionais. Estes descritores contemplam 90 características relativas à árvore, folhas, flores, frutos e sementes, exigindo observações visuais e análises aos parâmetros físicos e químicos dos frutos. Esta caracterização é complementada com análises biomoleculares, por marcadores DNA. A caraterização do material permite a sua inscrição no Registo Nacional de Variedades de Fruteiras, ficando disponível para a atividade viveirista.
No âmbito do projeto AGRO+EFICIENTE decorrem trabalhos de limpeza de vírus, por procedimentos “in vitro”, em algumas das variedades com maior interesse para a produção, visando a constituição de campos de pés-mãe, com a finalidade de disponibilizar as variedades ao mercado, através de viveiristas.
A coleção tem sido visitada por diversos tipos de público, nomeadamente associações de agricultores, agricultores individuais, estudantes dos diversos graus de ensino, investigadores de entidades nacionais e estrangeiras, entre outros. Foi também apresentada em várias comunicações no âmbito de encontros científicos e de divulgação, bem como alvo de artigos e reportagens nos media, como por exemplo no episódio n.º 13 do programa Faça Chuva Faça Sol da RTP, emitido em 09/04/2022, disponível em Faça Chuva Faça Sol Episódio 13 – de 09 abr 2022 – RTP Play – RTP.
Tratando-se de um processo dinâmico, a coleção será completada com outras variedades instaladas noutros campos da CCDR Algarve I.P. | Agricultura e Pescas e a obter em novas prospeções, prevendo-se que no futuro possa reunir mais de 300 variedades/entradas.
Autoria: José Carlos Tomás e Luís Cabrita, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, I.P., Agricultura e Pescas
Leia o artigo completo na Revista Voz do Campo: edição de fevereiro de 2024